quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Professores e Pais no Contexto da Iniciação ao Futsal

Wilton Carlos de Santana
Mestre em Pedagogia do Movimento pela UNICAMP (SP)
Doutorando em Educação Física na UNICAMP (SP)

Escolhi duas lembranças, entre outras tantas, para iniciar este texto que fala de professores, de pais e de
iniciação ao futsal. A primeira é a seguinte: lembro-me de um professor da minha época de graduação dizer
que, em se tratando de iniciação esportiva, os professores deveriam proibir os pais de assistir aos treinos.
Isso porque esses, por conta de não entenderem de pedagogia do esporte, mais atrapalhariam do que o
contrário.
A segunda lembrança é mais recente. É de um documentário sobre iniciação esportiva. Neste, aparece uma
cena de um treino de beisebol infantil com crianças jogando, um grupo de pais torcendo e o técnico. Num
determinado momento, um entrevistador se aproxima deste e pergunta: "Como você se sente com o
comportamento dos pais?" . Ele responde: "Nada. Para mim eles não estão ali".
Infiro das lembranças descritas que o meu ex-professor e o técnico americano consideram negativa a
participação dos pais na iniciação esportiva. De minha parte, não estou interessado em julgá-los, mas em
ponderar sobre a difícil relação entre professores e pais.
Defenderei a idéia de que muito da incompatibilidade e da compatibilidade entre ambos é conseqüência do
que pensam e querem para a criança. Por outra: o que motiva os pais a manterem os filhos numa escola de
esporte? Eu não sei. Ainda que seja complexo responder, suponho algumas coisas: por acharem que o
esporte faz bem para a saúde, ou para que o filho se torne um jogador profissional, ou para que se divirta,
ou para que faça amizades, ou para que, um dia, seja o jogador que o pai não foi, ou para que seja o
jogador que o pai foi, ou várias dessas e de outras coisas. O que motiva o professor a dar aula numa escola
de esporte? Eu também não sei. Pode ser por gostar de criança, pode ser por gostar do tipo de esporte
(futsal, basquete...) e de criança, pode ser para realizar o objetivo de ser técnico profissional, pode ser para
realizar-se como educador, pode ser para ganhar uns trocados, pode ser para ganhar prestígio ou muitas
dessas e de outras coisas ao mesmo tempo.
Logo, o jeito de o professor pensar o ensino do esporte, o jeito de o pai pensar o aprendizado do filho, a
maneira de o professor ensinar, a maneira de o pai agir e o jeito de ambos interagirem com as nuances que
a iniciação esportiva encerra (como, por exemplo, a aula, a competição, o desempenho, a vitória, a derrota)
sinalizam para a qualidade das relações estabelecidas.
É fato: se o método do professor atender à expectativa dos pais, a relação entre ambos tenderá à
cordialidade. A recíproca é verdadeira. Caso os pais mantenham os filhos no esporte para que eles, além de
aprender, por exemplo, futsal, se divirtam e participem de jogos em geral, e o método do professor der conta
disso, a probabilidade de surgir problemas é menor. O contrário sinaliza para intempéries. Repete-se o
raciocínio em caso de os pais manterem os filhos no esporte para que eles aprendam futsal, vençam os
jogos, sejam titulares e campeões, e o método do professor atender ou não à demanda.
Parece-me que o "choque" se dá quando ambos pensam coisas diferentes e agem diferentemente para dar
conta das suas idéias. O que fazer quando isso acontece? Esse é o ponto que me interessa. Para o meu
professor de graduação: vetar os pais de assistir aos treinos. Para o técnico americano de beisebol infantil:
ignorá-los. Seriam essas as melhores atitudes pedagógicas? O que esperar dos pais se os professores
forem assim tão truculentos?
A meu ver, o que se pode fazer é investir num regulamento, no diálogo, na aproximação, em reuniões
periódicas e em avaliações. Coloquei o regulamento em primeiro plano por conta de acreditar que esse
pode gerar uma pauta mínima de temas para discussões e de outros que não são negociáveis.
Pedagogia do Futsal | www.pedagogiadofutsal.com.br Página | 2
Wilton Carlos de Santana
Em geral, os professores esperam que os pais sejam equilibrados. Ser "equilibrado", entre outras coisas,
pode significar o fato de os pais permitirem aos professores gerirem as aulas e o comportamento da equipe
quando da participação em competições, a dialogar com o filho, a ouvi-los, a incentivá-los, a manter uma
atitude respeitosa para com os árbitros e os pais das outras equipes. Isso exige, por reciprocidade, que os
professores ajam em consonância com essas idéias. Caso contrário, como cobrar qualquer coisa dos pais?
Por conseguinte, penso que não se consegue resolver os possíveis inconvenientes entre professores e pais
afastando estes. Proibir os pais de assistir os treinos ou ignorá-los é sinal de incompetência pedagógica.
Para o professor Olímpio COELHO (1988, p.41), no seu livro Pedagogia do desporto, isso pode ser "[...] um
sinal negativo de uma sociedade que perdeu (ou nunca ganhou?) a perspectiva correcta sobre o significado
do desporto para crianças e jovens".
Para que os pais respeitem os professores, dialoguem com o filho, ouçam ambos e ponderem sobre as
nuances da iniciação esportiva (que é o que todo professor de esporte quer) é preciso que os professores
se façam respeitar, o que perpassa, entre outras coisas, estabelecer certas diretrizes pedagógicas, dialogar
com os pais e com as crianças, ouvi-los e ponderar sobre as nuances da iniciação esportiva. Exige-se,
portanto, reciprocidade.
Como eu não sei o que pensam e querem os pais e os professores, direi que o irredutível em se tratando de
iniciação esportiva (ou de escola formal, de teatro, de música, do que for) é, sobretudo, pensar e querer
para a criança um tipo de pedagogia que ensine a viver melhor em sociedade.

Abraço.