sexta-feira, 18 de setembro de 2009

As Categorias de Iniciação e o Aprendizado Tático

Wilton Carlos de Santana
Mestre em Pedagogia do Movimento pela UNICAMP (SP)
Doutorando em Educação Física na UNICAMP (SP)

Nas categorias de iniciação (Sub-7, Sub-9 e Sub-11), o professor de futsal, além de educar atitudes
(sem ser moralista), habilidades e desenvolver capacidades motoras, deve ensinar habilidades táticas às
crianças. Essas se referem à pessoa (individuais) e às pessoas (coletivas). Quando o professor quiser
ensinar habilidades táticas individuais, deverá planejar atividades que exijam da criança perceber, tomar
decisões (escolher) e se antecipar. Quando quiser ensinar habilidades táticas coletivas, deverá planejar
atividades que ensinem mais sobre como se posicionar na quadra e como se movimentar ofensiva e
defensivamente de maneira inteligente.
Penso, por um lado, que a atitude de ensinar habilidades táticas coletivas será tanto mais possível
quanto mais "velha" a criança (a melhor fase para o aprendizado tático não é a infância, mas a
adolescência!). Quanto mais nova, menos possível, ou seja, uma criança na categoria Sub-7 terá mais
dificuldade que uma na Sub-9 e está mais do que outra na Sub-11. Bastam, para isso, três argumentos,
ambos relacionados: (a) o jogo, até por volta dos 8,9 anos, como disse Garganta(1), é anárquico (todos
correm atrás da bola); (b) criança quanto mais nova, como disse Piaget(2), mais egocêntrica (como
cooperar, colocar-se no ponto de vista do outro, se não se lhe reconhece?) e, (c) cognitivamente(3) (tanto
mais verdadeiro o argumento quanto mais nova for a criança), pensa-se a partir do que se apresenta (o
concreto) e não sobre o abstrato - este, a meu ver, a essência do pensamento tático.
De outro lado, nada impede tanto o ensino das habilidades táticas individuais como o ensino de alguns
princípios táticos coletivos. Para ensinar estes, sugiro o jogo formal (o coletivo) e os jogos adaptados (com
regras adaptadas, mas que ocupem toda a extensão da quadra); para ensinar aquelas, sugiro as
brincadeiras (em particular jogos da cultura popular infantil), os jogos reduzidos (em espaço reduzido, com
formações numéricas flexíveis e inferiores a 5x5) e, novamente, os jogos adaptados. Comum às atividades,
o fato de o processo de ensino centrar-se no jogo (na tática): este (o jogo) incrementa tanto as habilidades
táticas individuais (a percepção, a tomada de decisão e a antecipação) como as coletivas (o posicionamento
em quadra, o atacar, o defender e o contra-atacar). A herança desse tipo de pedagogia é a construção de
um jogador inteligente (quem convive com a diversidade aprende a se "virar", não?).
Portanto, antes da adolescência, alguns princípios da tática coletiva podem ser ensinados às crianças
(que serão mais fáceis de serem aprendidos, quanto mais "velha" forem). Minimamente, sugiro que se
pontue:
- Como (individual, por zona) e onde (em que local, a partir de que local) se marca com a bola em jogo e
com a bola parada (laterais ofensivos e defensivos, arremesso de meta, arremesso de canto e faltas);
- O que significa marcar atrás da linha da bola;
- Como e porquê fazer o retorno da marcação;
- Como se posicionar ofensivamente nas bolas paradas de arremesso de meta, de tiro de saída, de laterais
ofensivos e defensivos, de faltas, de arremessos de canto e, também, mas é mais difícil, com a bola em
movimento.
Para tanto, sugiro que o método respeite cinco regras básicas:
- As crianças devem visualizar o que se pretende ensinar (isso facilitará a compreensão);
- Deve-se atentar para a pouca capacidade de concentração apresentada pela criança (quanto mais nova
for), evitando-se muita teoria e correções;
- Devem-se apresentar situações de jogo com superioridade numérica (isso facilitará perceber os outros,
isto é, descentrar-se. O jogo adaptado e o reduzido são atividades indicadas);
- Deve-se apresentar, na mesma situação de jogo, algo novo (o desequilíbrio cognitivo);
- As crianças devem ser levadas a pensar sobre o que acabaram de fazer (basta que o professor pergunte!).
O método contribuirá para que a criança construa um raciocínio tático.
Por último: não é porque se pretende ensinar esses conteúdos que o professor de futsal transformará o
treino da criança numa confusão, parando-o freqüentemente para corrigir posicionamentos, tampouco que
construirá o conhecimento destes a partir, apenas, do jogo formal. O método de confrontação (5x5) não
beneficia a descentração e a escolha (são muitas informações, ao mesmo tempo, para coordenar!). O
professor orientará? Evidentemente. Mas aos poucos, sem pressa, permitindo que as crianças, nos
diferentes jogos, interpretem as situações e tomem suas decisões. Caso contrário, o treino ficará chato e a
criança perderá o interesse. Desinteressada, não se mobilizará. E se isso ocorrer, não aprenderá.
Insisto: quanto mais nova a criança, menor a possibilidade de aprendizado das habilidades táticas
coletivas. Entretanto, o aprendizado das habilidades táticas individuais, independentemente da idade, deve
ser fomentado. Para tanto, o professor deverá planejar jogos. O raciocínio tático (perceber, decidir,
antecipar) conquistado nas brincadeiras e em particular nos jogos reduzidos e adaptados não será
esquecido quando do jogo formal.
Se em quadra, como disse Garganta(4), o êxito de um jogador está estreitamente relacionado à maneira
como ele percebe o jogo, então é a percepção o que às crianças deve ser permitido desenvolver nas aulas
de futsal.

Abraço.