sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Má fé

Wilton Carlos de Santana
Docente do Curso de Esporte da UEL (PR)
Doutor em Educação Física - UNICAMP (SP)

Muitos são os jogadores de futebol que, após a marcação de um gol, seu ou de algum colega de equipe, levantam as mãos com os indicadores apontados para o céu. O gesto é inequívoco: agradecem a Deus, que “mora” no céu, pelo feito. Com um pouco mais de atenção, lemos em seus lábios tais palavras de gratidão. Em agindo assim, revelam que reconhecem a presença de Deus em suas vidas, que O enxergam por detrás das coisas visíveis, como o jogo de futebol. Alguns astros da modalidade, como por exemplo, Kaká, fazem mais do que isso: declaram a sua fé em Jesus Cristo como o Senhor de suas vidas, a Quem seguem, adoram e imitam. Não é incomum lermos, nas suas camisas, frases estampadas, como “I love Jesus”, “I belong to Jesus”, “Deus é fiel”, “Only Jesus” etc.
As manifestações desses e de outros atletas geraram uma interessante matéria na Folha de São Paulo, de 23 de agosto, caderno esporte (“Esporte discute se é ‘profissão de fé’”). O fato é que se queixaram à Fifa acerca das manifestações “religiosas” de alguns jogadores brasileiros quando da comemoração do título da Copa das Confederações de Futebol, disputada na África. E a Fifa mandou um ofício à CBF pedindo “moderação”.
Nessa matéria, alguns especialistas emitiram opiniões sobre o tema “fé”. Defendeu-se, por exemplo, que esta ajuda o desempenho atlético; que se trata, em alguns casos, de uma logomarca (marketing pessoal) a fim de serem mais bem vistos pela sociedade; de que, nem sempre, se trata de uma atitude ligada a Deus, ou seja, tratar-se-ia de um ritual que vem se repetindo; de que se trataria de proselitismo, isto é, de uma tentativa de doutrinação. Quem defendeu isso disse que “A fé é uma opção que sendo de foro íntimo, deveria estar circunscrita à vida privada. Se manifestada em público, ela se torna uma forma de proselitismo”.

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“Prefiro que meus filhos vejam ídolos esportivos professarem que amam Jesus no lugar de os verem dizer que são bad boys (meninos maus).”
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Em particular, comentarei apenas a última opinião, de que a fé cristã deveria ficar circunscrita à vida privada, pois ela retrata uma grave distorção. A fé, ou ainda melhor, o dom da fé em Cristo, que tem a ver com enxergá-lo interiormente, jamais poderia ser guardada para si mesmo. Por quê? Simplesmente porque Deus é amor e, assim sendo, transbordará. Então, a fé é para o outro, para contagiar o outro, para presentear o outro.
Quem tem fé proclama o evangelho, isto é, a boa notícia de que o Reino de Deus chegou ao mundo, isto é, está acessível, para que todo aquele que Nisso crer não pereça, mas tenha a vida eterna (João 3:16). O Reino é Cristo. Isso é para ser espalhado entre o público e sobre a vida alheia. Não é para encarcerar as pessoas numa dada religião. A fé em Cristo liberta enquanto a religião escraviza. Os religiosos enchem as pessoas de regras para cumprir a fim de merecerem o Reino. Trata-se de um engodo, pois não é esse o caminho. Os crentes acreditam no Rei e ganham, graciosamente, o Reino. Leia o evangelho e perceba como isso é “a” verdade!
Para a Fifa, Cristo na televisão incomoda. Isso é óbvio! Ele não vende. Não é um partner (parceiro). O importante para ela é que as pessoas bebam Coca-Cola, comam McDonald’s, usem Visa, viajem pela Emirates, andem de Hiunday, vistam Adidas, se comuniquem com os aparelhos da Sony e, sobretudo, paguem para ver os seus campeonatos de futebol. Por exemplo, no Brasil é proibida a venda de bebida alcoólica nos estádios, pois estaria associada ao fenômeno da violência no futebol. Mas, para 2014, ano da Copa, a medida não valerá, porque a Fifa tem um contrato com a Budweiser. Entendeu a má fé?
Isso posto, compreendo que as atitudes dos atletas incomodem parte dos que não crêem. Entretanto, para os cristãos, dentre os quais eu me incluo, não incomoda. Prefiro que meus filhos vejam ídolos esportivos professarem que amam Jesus no lugar de os verem dizer que são bad boys (meninos maus).
Torço para que o amor que não cabe em si transborde e tinja as camisas dos jogadores, a minha e a sua vida. Se o economista suíço Joseph Blatter acreditasse em Jesus diria o mesmo.

Texto disponível em www.pedagogiadofutsal.com.br, acessado em 24/10/09.

Abraço.