segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Atividades Competitivas

Wilton Carlos de Santana
Mestre em Pedagogia do Movimento pela UNICAMP (SP)
Doutorando em Educação Física na UNICAMP (SP)

Dia desses, numa das minhas aulas na Universidade, surgiu uma discussão
sobre o tema competição. Aliás, este é um tema recorrente quando se fala
sobre o ensino do futsal na infância. Em particular, tratávamos naquela aula
de uma possível classificação das atividades motoras para ensinar as
habilidades específicas (passe, chute, domínio, condução...). Dentre as
subdivisões, comentávamos sobre as competitivas: aquelas onde as crianças
aprendem mais sobre as habilidades participando de competições.
Necessariamente, esse tipo de atividade deve apontar um vencedor ou
vencedores.
A discussão aconteceu quando perguntei o que achavam da atitude
pedagógica de selecionar atividades competitivas para ensinar as habilidades
específicas. Lembro-me de algumas frases enunciadas pelos alunos: "Eu
selecionaria. Quem não aprende a vencer desde cedo, não vencerá na vida";
"Acho ruim. A criança que perde se sentirá frustrada"; "É positivo, porque ensina a vencer. E negativo,
porque ensina a perder"; "Eu não colocaria. Imagine uma atividade com dez crianças: para que uma vença,
outras nove têm que perder".
As idéias acima se revelam antagônicas, como são a vitória e a derrota. Nenhuma novidade: pensa-se,
invariavelmente, que competir se resume a ganhar ou perder. Vencer é bom, capacita e integra. Perder é
ruim, enfraquece e segrega. Valores que permeiam o competir, como participação, alegria, entrega,
cooperação e o próprio aprendizado, raramente são considerados relevantes.
Observe que não estávamos falando da competição presente em campeonatos e torneios. Falávamos, tão
somente, da criança participar de atividades competitivas para aprender as habilidades do futsal.
Penso que o professor de futsal não tem o poder sobre o fenômeno competição. As crianças competem
com ou sem a intervenção do professor ("Vamos ver quem chega primeiro?)". O que se pode discutir, e
talvez isso seja relevante, é o tratamento que os professores e os dirigentes dão à competição.
Do ponto de vista metodológico, se propusermos atividades competitivas para ensinar habilidades como
chute, condução, passe e outras, certamente teremos o interesse das crianças. Competir é inegavelmente
atraente. Entretanto, competir se manifesta diferentemente dependendo da faixa etária: crianças pequenas,
de cinco, seis, sete anos têm pouco interesse (ou capacidade) em administrar a competição. É comum não
saberem, por exemplo, quem está ganhando. Estão atrás mesmo é de diversão (1). Já crianças maiores, de
8 a 12 anos, administram os resultados. Por extensão, preocupam-se com o êxito e importam-se em vencer.
Se considerarmos que grande parte das atividades competitivas é na realidade composta de jogos
populares, competir tornou-se um recurso pedagógico interessante: a ludicidade dos jogos conhecidos pode
ser uma ponte para que o professor ensine coisas novas. De outro lado, como já disse Jean Chateau
(1987), quando joga a criança tem a oportunidade de afirmar sua personalidade (2). A criança quando joga
se mostra como é verdadeiramente. Logo, é uma boa oportunidade para se trabalhar com temas
transversais como, por exemplo, a ética e a moralidade.
Outro aspecto na metodologia que considero relevante é o de obedecer a uma regra básica: quanto menor
a criança menor deve ser a proposição de atividades competitivas para ensinar as habilidades. Por que?
Porque, em geral, essas atividades implicam em realizar as habilidades - condução, passe, chute e outras -
com pressa. A atitude de ser apressado contrapõe-se ao objetivo do momento, que é o de construir
Pedagogia

Abraço.