quarta-feira, 14 de abril de 2010

O JOGO DEVE SER JOGADO !!!

O jogo deve ser jogado
Por João Batista Freire

Esse título serviu-se daquilo que, há muito tempo, vem dizendo a sabedoria popular. Existe uma certa ordem em todas as coisas e em conformidade com o contexto em que elas se inserem. Estar de acordo com essa ordem é dar à ação uma simetria, uma estética, que a torna inteligível.
Esporte é jogo, é manifestação de jogo, como também o são outras manifestações – as brincadeiras, lutas danças e ginásticas, entre diversos outros exemplos possíveis. O conceito de jogo engloba muitas manifestações, várias delas descritas em um trabalho recentemente publicado. Tive a oportunidade de afirmar, entre outras coisas, que:

Resta, portanto, buscar o significado do jogo, não mais na caracterização infindável de partes que o compõem, mas sim na identificação dos contextos em que ocorre. Seguramente há um nicho ecológico que acolhe o jogo e lhe permite se manifestar, o único ao qual ele se adapta. É nesse ambiente que temos que penetrar para tentar compreender o fenômeno do jogo. (7)

Compreende-se, por conseguinte, que, sendo o esporte uma manifestação de jogo, ao se dedicar às práticas, o esportista penetra nesse ambiente, habita um contexto que, embora integrado por elementos também presentes em outros meios, forma naquele momento um arranjo particular caracterizado como jogo. Assim, para sair-se bem, para dar conta da situação lúdica específica naquele instante, ele tem que ser capaz de jogar, sem confundir isso com outras situações não lúdicas.
A confusão que se faz é freqüente: os orientadores (técnicos, dirigentes, preparadores físicos) confundem jogo com trabalho. Ao contrário do que era permitido a jogadores como Pelé, Garrincha e Maradona, no futebol de tempos atrás, esses profissionais impõem rotinas exaustivas que poucos trabalhadores suportariam, descaracterizando o jogo. O resultado final é uma prática de pseudojogadores que se aborrecem com o que fazem, não alcançam o nível da arte em suas performances, perdem qualidade nos movimentos realizados e deixam escapar a idéia mais geral do contexto de jogo. Se conseguem se sair bem, é apenas porque os demais jogadores das outras equipes também são orientados da mesma maneira, tornando, portanto, menor a qualidade do jogo praticada em todas as equipes.
Alguns resultados desse conceito imposto ao jogo, pelos capatazes do esporte, são recentes e evidentes. Na Copa do Mundo de 1994, a seleção brasileira de futebol, de baixíssimo nível técnico, foi a vencedora de um grupo especialmente típico de seleções de péssima qualidade. (*N A: discordo e penso que a seleção apresentou um futebol competitivo, e esta conquista foi fundamental para o futebol brasileiro). Realizou-se um campeonato de trabalho, e não de jogo, em que os operários da seleção brasileira, à exceção de um ou outro jogador, estavam lá para cumprir rotinas de trabalho, em vez de práticas de jogo. Na atual seleção brasileira de futebol, que vai à Copa de 2002 (escrevo antes do início da Copa), é nítida a preferência do técnico por atletas pouco criativos, menos jogadores e mais operários Poucas vezes, jogadores do nível de um Denilson ou um Romário poderão ter lugar entre os 11 titulares – eles brincam, e isso é proibido. Ainda assim, se houver lá entre eles, algum que saiba brincar, isso fará a diferença.
Trabalho e jogo inevitavelmente se confundem. No esporte, contudo, predomina o jogo sobre o trabalho; caso contrário, não é jogo. No jogo, ser inteligente é jogar.

* Nota do Autor do blog

Abraços !!!