terça-feira, 13 de abril de 2010

A inteligência no esporte

Por João Batista Freire

Em hipótese alguma uma pessoa que faz esporte deveria desenvolver sua inteligência apenas nesse campo. É absurdamente injusto, apesar de ocorrer com exagerada freqüencia, praticantes do esporte terem seu universo inteligível reduzido aos limites do campo esportivo. A vida deveria ser, para todos, mais que uma quadra de voleibol, uma pista de atletismo ou um tablado de ginástica olímpica. Não sei por que razão a nossa sociedade, que rejeitou tão fortemente a ditadura militar instalada no Brasil em 1964, é tolerante com as ditaduras esportivas.
Quando um atleta brasileiro sagra-se campeão em alguma modalidade esportiva, a imprensa, por exemplo, tece elogios indiscriminados à conquista, sem dar-se ao trabalho de verificar como ela foi conseguida. Às vezes, o feito esportivo foi obtido sob tortura, como ocorre, com tanta freqüência, no voleibol ou na ginástica olímpica, para ficar apenas em dois exemplos. No caso dessa última, técnicos e técnicas exibem com orgulho os depoimentos de suas crianças e adolescentes campeões. Geralmente os pequenos atletas eximem de culpa os seus torturadores, dizendo que renunciam aos brinquedos, aos namoros, aos passeios, à vida pessoal, porque estão convictos de que treinar para serem campeões é o que mais querem na vida.
As possibilidades de ser inteligente, para qualquer um de nós, são ilimitadas, se pudermos viver intensamente situações diversificadas e motivadoras. No caso da excessiva exposição aos treinamentos de alto nível, há pelo menos duas agravantes quanto ao desenvolvimento da inteligência. A primeira é a redução da diversidade de situações, pois o praticante realiza um excesso de uma coisa só. A segunda é o aprofundamento cada vez maior nessa única coisa, uma superespecialização, reduzindo inclusive as possibilidades de desenvolvimento daquilo que representava o objetivo mais específico da preparação esportiva.
O que se poderia fazer, então? Haveria outro caminho a seguir no desenvolvimento esportivo que não esse percorrido tradicionalmente, que inclui, nos casos extremos, especialização precoce, contusões, limitações da inteligência, excessos de treinamento e uso de drogas? Claro que há e, como já afirmei aqui, ele foi seguido por vários excepcionais atletas do futebol, entre eles, Garrincha, Pelé e Maradona, que aprenderam enquanto brincavam, como qualquer criança de vida normal. Fossem nossos técnicos esportivos melhores observadores, encontrariam nesses fenômenos esportivos a orientação mais segura para suas pedagogias.
Refiro-me, mais especificamente, à educação esportiva, essa coisa que tem sido tão bem feita pela cultura popular em algumas modalidades esportivas e que os “gênios” do nosso esporte teimam em não reconhecer. A educação esportiva sistematizada em centros esportivos, escolas e clubes teria a incumbência de fomentar o exercício e o desenvolvimento da inteligência, particularmente para as situações do esporte e no contexto mais geral da sociedade, pois de nada vale saber esporte se nada soubermos da vida. Reporto-me à inteligência como a ação de tornar inteligíveis as coisas, para si e para os outros, ou seja, como um arranjo particular de produções, desde os impulsos mais primários às mais delicadas percepções estéticas.

Abraços !!!