domingo, 1 de novembro de 2009

Competição e cooperação no esporte coletivo

Wilton Carlos de Santana
Docente do Curso de Esporte da UEL (PR)
Doutor em Educação Física - UNICAMP (SP)

É perfeitamente sabido que resultados ruins no esporte patrocinado resultam em demissões de técnico e de jogadores. Logo, todo treinador procurará jogadores capazes de competir e atender a maior parte das expectativas criadas ao redor da equipe. Por outra, procurará jogador competitivos, isto é, aqueles que reúnem condições de concorrer com outros. Sem essa virtude, não há como participar de equipes que exigem rendimento elevado. De bons jogadores, e considerarei assim todos aqueles que chegarem a esse nível de exigência, bons resultados serão cobrados. Aliás, é para apresentá-los que treinadores e jogadores atuam juntos.
Mas, quem pode ser competitivo? Quem reunir satisfatoriamente um conjunto de capacidades, que inclui as físicas, as gestuais (técnicas), as cognitivas, as emocionais, as sociais. É o desempenho harmônico desse coletivo de qualidades que sustenta o rendimento elevado do jogador; que lhe dá visibilidade. O desenvolvimento desses atributos começa a ser esboçado na iniciação esportiva, afirmado na adolescência e aprimorado na maturidade. Significa dizer que o jogador se torna competitivo ao longo do tempo. Esse processo se chama Treinamento a Longo Prazo (TLP). Estima-se que 10 anos de treinamento sejam necessários para que desponte um jogador de esporte coletivo de alto nível.
Isso posto, afirmaria que a competitividade é uma busca contínua de se tornar mais inteligente, mais bem preparado física, gestual, emocional e socialmente. Demandará, pois, um extenso e cansativo processo de construção sócio-cultural. Nessa caminhada, obviamente, não apenas o treinamento adquirido, mas também as características inatas são influentes. Logo, em se tratando de desempenho esportivo, o que se herda (genética), o jeito que se aprende (pedagogia), e ainda onde se está inserido (cultura), têm muita importância.
Num ambiente em que se busca ser igual ou superior aos outros o paradigma é a meritocracia, isto é, as pessoas são valorizadas segundo seus resultados. Não há como fugir disso. Por exemplo, para quem cumprir as tarefas cotidianas de competir com os colegas de equipe e obtiver êxito, a recompensa será a de ser a opção primária para o treinador; quem competir com os adversários e obtiver êxito, afirmar-se-á como um jogador de destaque, cuja condição lhe renderá, no contexto esportivo, uma gama de outras recompensas (bons contratos, projeção, mais tempo em quadra etc.). Ou seja, apenas para os que apresentarem bons resultados há luz no final do túnel. Para quem for superado, o ônus será o ostracismo e, nos casos mais graves, a exclusão e o banimento. Por isso, isto é, pelo mérito, que os jogadores são mais ou menos aproveitados pelos treinadores e estes mais ou menos valorizados pelos clubes. Em última análise, no esporte profissional, é o mérito o que define se jogadores e treinadores serão mais bem ou mais malsucedidos na carreira esportiva; se permanecerão mais ou menos tempo em evidência.
É exatamente sob o paradigma da meritocracia que muitos se perdem. E o fazem, entre outros fatores, por não conseguirem submeter interesses pessoais aos de natureza coletiva. Quer isso dizer que todo jogador que não conseguir cooperar (atuar junto) num ambiente competitivo é um impostor. E, por extensão, todo treinador que permitir que o egocentrismo, seja de quem for e o seu inclusive, sobrepuje a coletividade, além de impostor, é um amador, pois obstrui diretamente o desenvolvimento da equipe.
Portanto, competição não exclui cooperação. Ao contrário, a exige. Competir é, sobretudo, uma atitude cooperativa. Não precisamos ir tão longe para entender a interface entre essas atitudes. Pensemos no jogo. Este exige que os jogadores joguem sob regras coletivas. Quem não respeitá-las pune o coletivo. As estratégias são planos coletivos; a tática coletiva conecta-os para atacar e defender. A cobertura, o desarme, o bloqueio, o passe, a ajuda (dobra), entre outras, são atitudes cooperativas. Enfim, independentemente dos sujeitos, o ambiente exige cooperação. Entretanto, essa evidência do coletivo não significa, absolutamente, o ofuscamento da individualidade. Pelé e Michael Jordan, atuando de maneira coletiva, talvez tenham sido os jogadores de esportes coletivos mais originais de todos os tempos.
Espero que este texto tenha demonstrado que sem cooperação pouco ou quase nada de bom restará a fazer em esporte, um fenômeno marcado pela competição.
Para refletir: se competição e cooperação caminham juntas, por que boa parte dos jogadores profissionais, acostumada a competir desde cedo nas categorias menores, tem dificuldade de agir cooperativamente em suas equipes?

Disponível em www.pedagogiadofutsal.com.br, acessado em 01/nov/2009.