sábado, 26 de junho de 2010

Auto-rendimento

Por Wilton Carlos de Santana

Para parte dos professores de futsal, crianças não passam de estatística. Aqueles sobrevivem da quantidade de gols que estas fazem, do número de desarmes que executam, do tempo que jogam, das vezes que jogam, dos títulos que conquistam, enfim, do seu desempenho. Os “treinadores” costumam inscrever suas equipes, de crianças de 06 a 09 anos, nos campeonatos oficiais (Liga e Federação). Assim, têm a oportunidade de demonstrar o “profissionalismo da comissão técnica”, promoverem-se e angariar alguns pa(i)trocinadores. É preciso salientar que, nessas competições, em função de perseguirem a vitória a qualquer custo, resultado exclusivo que boa parte dos adultos aceita, esses professores apóiam poucas crianças, deixando as demais no banco de reservas todo o jogo, o mês, o ano. Oponho-me a esse tipo de prática. Causam-me indignação algumas cenas e atitudes grotescas quando da disputa de jogos nessa faixa etária. Sobra fragilidade pedagógica em parte dos professores de crianças esportistas. O olhar míope compromete o ambiente e, por extensão, o aprendizado dos alunos.
A rigor mesmo, crianças deveriam competir “pra valer” (nas chamadas competições federadas) mais para frente, a partir dos 12 anos de idade, quando em geral acumulariam mais experiência motora, técnico-tática e emocional. Não é preciso competir cedo para ser um craque de futsal no futuro! Já mostramos isso quando do artigo “A iniciação de jogadores de futsal com participação na seleção brasileira”. Por outro lado, nada impediria as crianças de se iniciarem no futsal cedo, desde que orientadas por professores que planejassem aulas diversificadas, que as poupassem da excessiva competitividade, que propusessem alternativas para isso, como encontros e festivais, que as privassem do rigoroso crivo de boa parte dos adultos, que as propiciassem jogos em que, todas, jogassem. O esporte na infância é, sempre, educacional. Não importa se realizado em clube ou escola. Trata-se de auto-rendimento e não de alto rendimento. Ser educacional implica em ser ético e responsável, o que inclui buscar a excelência (superar-se), mas exclui viver para atender às idiossincrasias de professores mal preparados.

Abraços!!!